Desde que vim morar sozinho, sinto que estou mais tranquilo. Ao mesmo tempo, quanto mais passo tempo sozinho, mais reflito e vejo o quanto me odeio.
Eu machuquei pessoas tentando fazer o certo, machuquei pessoas fazendo coisas erradas. Eu me machuquei tentando fazer o certo e fazendo o errado.
Fiz e desfiz planos. Me iludi amorosamente duzentas mil vezes. Talvez duzentas mil e uma vezes.
Já perdi as contas de quantas vezes fiquei deprimido por ter um coração enorme demais. Por amar demais e as vezes não saber expressar 1% desse amor. Já quis chorar, mas perdi essa capacidade faz tempo.
Não importa o quanto eu seja compreensivo, as pessoas ainda vão me machucar. De propósito. E não importa o quanto eu tente fazer as coisas certas, eu ainda irei machucar as pessoas.
Me dei conta que não é sobre elas, é sobre mim. É sobre não poder impedir as pessoas de serem felizes. Nenhum ser humano no mundo é culpado pelo meu infortúnio exceto eu mesmo. Talvez nem eu mesmo.
Minhas dores são minhas, não suas nem deles. São minhas. Meus monstros foram cultivados por mim, e se eu não consigo combatê-los, cabe a mim sozinho enfrentá-los.
Não há ninguém no meu coração agora. E ainda assim, tem diversas pessoas aqui dentro.
Eu sofro por problemas físicos, de saúde mesmo. Eu não aguento mais meu estômago, agora o fígado também começou a dar sinais de cansaço. E eu nem bebo mais. Eu só tenho 30 e poucos.
Inclusive acordei hoje me questionando quantos anos eu tinha.
Eu estou novo, eu tenho consciência disso. E eu nunca me achei tão bonito quanto me acho hoje. Ainda assim, sinto que estou cada vez mais próximo de um adeus prematuro.
Não consegui até hoje alcançar objetivos simples. Não consegui meu carro, não consegui abrir meu negócio. Escolhi o curso errado, escolhi caminhos errados. Não formei uma família e não tenho um rostinho pueril pra tocar e dizer "nossa, parece com a mãe e não comigo".
Alguns dirão que me falta ousadia, outros dirão que me falta coragem. Eu digo que me falta força.
Eu não aguento mais todas as dores do mundo.
Não aguento mais abrir o Instagram e ver as pessoas vivendo a vida que eu gostaria de viver.
Viajando, se divertindo, brincando.
Eu não tenho mais humor pra nada. Eu não quero mais sair de casa. E em casa, eu não quero fazer mais nada.
Eu não sei nem mais o que eu quero.
Tudo perdeu a graça. Tudo.
Até as pequenas coisas.
Olho rostos antigos e me sinto mal. Odeio essa cidade também.
Odeio o meu corpo.
Odeio minha estagnação.
Odeio ser bonzinho demais.
Odeio minha vida.
Isso não é nem sequer uma carta de despedida, pois eu não tenho coragem de me matar. E acho que nunca vou ter. Eu tenho ciência das minhas limitações.
Essa é uma carta de desabafo. É uma carta pra que leiam caso minha jornada acabe do nada. Seja por um surto psicótico que me deixe louco, seja por um acidente, seja até pelo meu corpo dando adeus do nada.
Essa é uma carta para que vocês entendam porquê eu vivi os últimos anos com tanta má vontade.
É uma carta pra que vocês entendam que eu não aguento mais ser forte.
Eu quero ser fraco. Eu quero ser amparado. Eu quero...
Talvez eu só queira um abraço.
Ou talvez eu só queira resetar a vida e começar do zero.
Mas Deus, se existir vida após a morte, eu vou ficar muito puto.
E pra quem for encher a porra do meu saco falando "você precisa de uma terapia ou academia"
Sintam-se a vontade para pagar para mim. Caso contrário, vocês todos que se fodam.